Pedaços de Mim

Publié le par Eneliram de Oliveira

Desde que ela lembrava sempre SONHARA alto, sonhava com grandes paixões, grandes amores, grandes viagens. Sonhava em ir à Veneza, ir a França, caminhar na beira do Sena, ir ao Jardim de Monet, aos museus, ver a Mona Lisa, andar pela Riviera Francesa e sempre acompanhada de um belo homem, mas os dias foram passando e nada aconteceu...

Hoje, sentada em sua cadeira de balanço no fundo do quintal, com meio século de vida nas costas não fez nada disso, vive sozinha em uma casa pequena que herdou dos pais, tem um emprego que apenas faz com quê viva com um pouco de dignidade e muita solidão e uma vontade imensa de ter sido mais ousada, mais corajosa, de ter ido ao encontro da felicidade!

O que ela fez para chegar aos cinquentas anos de idade sozinha, sem realizar nenhum de seus sonhos? Será que foi covarde, esperando por algo que nem ela mesma sabia o que era? Onde enterrou sua determinação de percorrer a estrada até o fim e buscar o que realmente queria!

Uma lágrima rola de sua face, é uma lágrima de frustração por ter sonhado tanto e realizado tão pouco. Chegou a essa altura da vida, sem ter um amor com quem dividir sua vida, sem um filho para lhe visitar nos dias de festa, sem netos...sente vontade de gritar, mas não consegue, afinal a culpa de tudo isso é somente sua, que passou a vida toda dando desculpas para não correr atrás de sua felicidade, construiu sonhos em cima de alicerces fracos e hoje sente apenas um desalento profundo.

Ver a maioria de suas amigas, casadas, com filhos, realizadas profissionalmente, sabe que para alguma pessoas, casar e ter filhos é um mero detalhe, mais para ela, um enorme detalhe...e ela ali amargando a solidão. Tenta tapar o buraco da solidão comprando roupas que nunca irá usar em festa nenhuma, pois não tem namorado, e os amigos nunca a convidam para nada....E quando pensa que nunca sentirá como é ter um filho no seu útero  , sente um amargo na boca, pois nem isso ela foi capaz de ser, sempre esperando pelo pai perfeito, mesmo sabendo que pessoas perfeitas não existem!

Enquanto isso continua sonhando com lugares que nunca irá conhecer, com amores que nunca chegarão. O inverno estar chegando em sua vida, e será solitário, pois terá apenas lembranças de sonhos não concretizados, amores inventados. Nunca saberá o que é ser mãe, o que é ter um companheiro que diga todos os dias EU TE AMO, que a abrace antes de dormir, que possa dividir sua vida e seus dias de inverno.

Será que a primavera não mais aparecerá na sua vida? Será que nunca irá conhecer os lugares que sonhou? Será que nunca a felicidade sorrirá para ela? Ou  sorriu e ela esqueceu de sorrir de volta, tão preocupada que estava em fazer planos que nunca sairiam de sua cabeça? Bom, ela sabia, seu coração dizia-lhe que não ia ter mais nada disso. O inverno chegou e ela não realizou nada, não plantou uma àrvore, não teve um filho e nem escreveria mais um livro. Agora teria que viver apenas dos sonhos que nunca realizou, que nunca lutou para conquistar!

Publié dans Pequenacrônicas

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